domingo, 21 de setembro de 2008

Histórico do CTG Glaucus Saraiva


O CTG Glaucus Saraiva surgiu como parte integrante do Departamento de Tradição e Folclore do Grêmio Sargento Expedicionário Geraldo Santana. Criado em 20 de outubro de 1983, o Centro de Tradições Gaúchas do clube, recebeu a sua denominação em homenagem ao grande tradicionalista rio-grandense, criador do Movimento Tradicionalista Gaúcho, que havia falecido recentemente. Como resultado dessa responsabilidade, de carregar no seu nome tão importante expressão da cultura gaúcha, ao longo desses quase vinte e cinco anos, o CTG Glaucus Saraiva vem acumulando inúmeros prêmios, além do reconhecimento público de instituições governamentais e privadas. Atualmente, sob o comando do Patrão Antônio Peres Fragoso, o CTG Glaucus Saraiva possui Invernadas de Danças Tradicionais na categoria Mirim e Juvenil, além de contar com vários jovens talentos.

O nosso Primeiro Patrão, idealizador de nosso Galpão, foi o Companheiro Jorge Antocheves de Lyma, que depois de reunir a gauchada do Clube Geraldo Santana e de receber o apoio da Diretoria para a organização de um Departamento de Tradição e Folclore em 20 de outubro de 1983, só conseguiu realizar a sua primeira reunião, registrada em ata, ainda sem contar com um "galpão", no dia 12 de setembro de 1984, conforme cópia da ata abaixo.


Cópia da Ata de Fundação do CTG Glaucus Saraiva, registrada em livro-ata, arquivado na Capatazia da Entidade.

Glaucus Saraiva da Fonseca (de óculos ao centro da foto).
(24/12/1921 - 17/07/1983)
Natural de São Jerônimo, onde nasceu em 24 de dezembro de 1921, foi poeta, folclorista, tradicionalista, músico e compositor. Sua atuação cultural, porém, foi ainda muito mais ampla. Em 1971, concebeu e executou o Galpão Crioulo do palácio Piratini que, em 83, passou o ter o seu nome. Ideólogo do tradicionalismo idealizou o IGTF, sendo seu primeiro diretor técnico. Seu profundo conhecimento de história e tradição do Rio Grande do Sul levou-o a funções bastantes diversificadas nesta área. Foi, entre tantas coisas, professor de folclore do curso de Pós-Graduação da Faculdade de Música Palestrina, coordenador da instalação do Parque Histórico Bento Gonçalves, em Camaquã, professor no Curso de Extensão Universitária da PUC (Folclore na Educação) e no SENAC (Culinária Gauchesca e Usos e Costumes do Sul), além de conferencista internacional sobre folclore. Presidiu três congressos tradicionalistas: em Santa Vitória do Palmar (1973), Pelotas (1975) e Passo Fundo (1977). Desenvolveu, também, profunda pesquisa sobre os brinquedos tradicionais das crianças gaúchas, promovendo exposições e publicações a este respeito. Foi redator da Carta de Princípios, o mais importante documento para a fixação da ideologia e dos compromissos tradicionalistas, aprovada no 8º Congresso Tradicionalista, em julho de 1961 em Taquara - RS, que também recebeu subsídios de José Paim Brites, Edu Falcão e Pedro Leite Villas-Bôas. Autor da nomenclatura simbólica do tradicionalismo. Na poesia, sua obra tem especial destaque em clássicos como “Chimarrão”, “Velho Poncho”, “Mãe Gaúcha”, “Borrachudo”, “Pala” e “Viola Missioneira”. No dizer de Antônio Augusto Fagundes, “foi o primeiro poeta do tradicionalismo e até hoje o melhor”. Publicou ainda os ensaios “Manual do Tradicionalista” e “Catálogo da Mostra de Folclore Juvenil”. Foi vocalista dos conjuntos “Os Gaudérios” e “Quitandinha Serenaders” entre 1950 e 1955, além de atuar na Rádio Farroupilha e Rádio Nacional do Rio de Janeiro, de 1948 a 1955. Mas sua ligação com a música foi ainda mais profunda: Cigarro de Palha, Porongo Velho, Tropereada, O Rum é a Gente que Abre, Casa Grande de Estância (com Luiz Telles), entre outras. Ao falecer, em 17 de julho de 1983, foi alvo de muitas homenagens e de noticiário nacional.
(Pesquisa de foto e texto por ROGÉRIO BASTOS - Fundação Cultural Gaúcha)

Glaucus Saraiva da Fonseca foi um pioneiro. Atleta perfeito, foi campeão de luta livre e de natação. Como escoteiro, agauchou a Patrulha do Quero-quero, transformando-a em uma estância simbólica, experiência que servirá logo mais tarde quando organizar o 35 Centro de Tradições Gaúchas, dando-lhe igual estrutura. Junto com Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, Glaucus foi um dos três reis magos da Santíssima Trindade do Tradicionalismo. Glaucus Saraiva foi, do meu ponto de vista, o maior poeta do gauchismo, imortalizado em poemas antológicos como Chimarrão, A Lenda do Quero-quero, e Borracho. Como um autêntico autodidata, Glaucus Saraiva era um homem de muitas leituras. Mas era também um iconoclasta que não se levava a sério, homem de amores tempestuosos, que espalhava prodigamente versos magníficos em qualquer guardanapo de restaurante... Deu forma legal ao 35 CTG, que serviu de modelo para os mais de dois mil Centros de Tradições Gaúchas que hoje existem espalhados pelo mundo. Criou o Galpão Crioulo do Palácio Piratini, que hoje leva o seu nome. Criou o Parque Bento Gonçalves da Silva e é o autor da Carta de Princípios do Tradicionalismo Gaúcho. Conseguiu a sede do 35 CTG em Porto Alegre. Foi pioneiro e ainda hoje é o grande nome nas pesquisas de folclore infantil em nosso Estado. Como teórico do tradicionalismo gaúcho, é o festejado autor de Manual do Tradicionalismo. Ombreou em pé de igualdade com os grandes intelectuais de seu tempo.

Glaucus Saraiva foi o meu maior amigo, amizade que perdura após a sua morte. Quem nos visse conversando pensaria que era uma briga, porque disfarçávamos a amizade e a ternura com o rude linguajar gauchesco, maneira que o gaúcho tem de disfarçar o carinho para não parecer menos macho. Durante anos e anos fomos companheiros de pescarias em acampamentos memoráveis. O Glaucus tocava mal o violão e eu cantava mal, mas nas noites de acampamento, quando a lua nos mandava a sua bênção de prata, lá pelas tantas o Catão vinha de viola em punho e me provocava para um tango da velha guarda e antigas reminiscências. Como ele era um moralista intransigente da boca para fora, eu lhe dei o apelido de Catão, o grande censor da Roma Antiga, e pela mania que eu tinha de usar arma, ele me chamava de Cisco Kid sem o Kid... Com o Catão e nos acampamentos eu aprendi a ser cozinheiro e assador de churrasco. E agora a Prefeitura Municipal de Porto Alegre quer homenagear o Glaucus Saraiva dando o seu nome a um concurso de monografias sobre folclore e tradicionalismo. Justa homenagem a quem sempre desdenhou de homenagens e honrarias, embora merecesse todas.
(Texto acima publicado no Jornal Zero Hora em 14.08.2006, por NICO FAGUNDES).


Glaucus Saraiva foi e é ainda um dos nomes mais importantes do gauchismo. Ele, Paixão Côrtes e Barbosa Lessa são os três reis magos que trouxeram os presentes que até hoje ornam o altar da tradição, três homens com os quais o Rio Grande contraiu uma dívida irresgatável.Poeta maravilhoso dos antológicos Chimarrão, Velho Poncho e Borracho, para ficar apenas nos seus versos mais conhecidos. Compositor de canções como Porongo Velho, Meu Cusco Barbudo e Tropeada. Cantor que fez parte de dois grupos famosos: Os Gaudérios e Quitandinha Serenaders, onde era companheiro de Luís Telles e João Gilberto. Foi um dos primeiros professores escolhidos para lecionar no curso de pós-graduação em Folclore da Faculdade Palestrina, de lendária memória, onde foi responsável pela cadeira de Folclore Infantil. As pesquisas que efetuou nessa área resultaram num livro lindíssimo publicado pelo Instituto de Folclore, referência obrigatória no tema. E na coleção de brinquedos que hoje faz parte do Museu Glaucus Saraiva na bela sede do CTG Sinuelo do Pago, em Uruguaiana, ao qual ele doou com a esperança de fazer prosélitos e discípulos. No entanto, atualmente, é um dos nomes menos falados no tradicionalismo. Parece que apenas o bravo CTG Glaucus Saraiva honra a sua memória. Mas não. Como eu, há outro gaúcho interessado em resgatar a importância de Glaucus Saraiva, pelo menos como poeta. Henrique Dias de Freitas Lima, nome importante na história dos festivais, como pioneiro e incentivador da Califórnia da Canção Nativa, excelente declamador, é um apaixonado pela poesia do Glaucus, de quem foi um grande amigo e de quem lembra com muita saudade. Pois o Henrique gravou Seleção de Poemas, um CD de poesias em que aparece o Glaucus de corpo inteiro, poeta da ternura e do amor. Glaucus Saraiva nasceu em São Jerônimo, filho de família tradicional. Logo se destacou dos irmãos e irmãs como ledor incansável e atleta perfeito. Era um autodidata por excelência, com uma formação humanística impressionante, apoiada por uma bela biblioteca.Glaucus conseguiu, como pioneiro, uma sede urbana e uma sede rural para o seu amado 35 CTG. Conseguiu, também, idealizar e implantar o Galpão Crioulo do Palácio do Governo, que leva o seu nome. Na minha opinião, Glaucus Saraiva é o maior poeta do gauchismo, o único entre todos nós a compreender que a poesia gauchesca não é a poesia do gaúcho e sim a poesia para o gaúcho. Por isso, a poesia de Glaucus é erudita, gongórica, rebuscada, rica em figuras poéticas, embasada em sua imensa cultura geral.


Nunca haverá outro Glaucus Saraiva!

ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES - ZH - 28 de fevereiro de 2009 N° 15893

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