De origem portuguesa, os Ternos de Reis, Reisados ou Reses, já foram considerados umas das festas religiosas mais populares no Brasil. Pertencentes principalmente ao ciclo do Natal, consistiam na reunião da família, da vizinhança, dos amigos. O integravam os puxadores ou cantadores, os músicos e os demais ternistas que acompanhavam a ladainha do peditório. Durante o ciclo do Natal, os Reisados podiam começar à meia-noite do dia 25 de dezembro ou na noite de 1. de janeiro, se estendendo até a noite do Dia de Reis, 6 de janeiro. Os cantadores eram comumente 5, sendo as vozes divididas em “tipa”, que é a terceira e última voz, bem fininha, duas vozes médias e duas na frente, como primeiras vozes. O tocador podia ser um, de gaita, dois, de rebeca e viola, ou três, de gaita, violão e pandeiro. Os Ternos de Reis anunciavam aos visitados que foram os Reis Magos Baltazar, Belchior e Gaspar que receberam o Divino Menino Jesus, recém-nascido. Portanto, anunciavam a todos a chegada do Filho de Deus nesta Terra. Esse simbolismo tem a sua importância: os poderosos devem curvar-se diante dos humildes. Ao chegarem nas casas, o Terno cantava na porta, pedindo licença ao dono para entrar. Pediam donativos como comida e bebida, os quais eram colocados dentro do saco que carregavam. “Senhor dono d’esta casa, os Reis Magos aqui estão; pra receber qualquer oferta de tão devoto cristão”. Dentro da casa, tocavam e cantavam modas populares. O dono da casa, em mesa posta, passava a oferecer ao Terno queijos, lingüiças, morcilhas, carnes, bolos, coalhadas, roscas grandes enfeitadas e o que mais tivesse preparado. Alguns ofereciam ceias com frutas ou um café reforçado. Mas bebidas alcoólicas não eram ofertadas. Se houvesse vinho, os visitantes tomavam apenas um gole cada um. A Festa Grande do Dia de Reis culmina com um baile. Em alguns rincões do Rio Grande do Sul ainda ocorre essa festa popular. Mas o certo é que as influências externas contribuíram para o quase total desaparecimento dos Ternos. Em determinada época chegou-se ao cúmulo de se considerar “grossura” toda a manifestação originada do interior, das tradições campesinas. O “fino” era copiar hábitos, usos e costumes do povo “norte-estadodunense” ou inglês. Mas o Terno de Reis resistiu e continua resistindo, mesmo diante das tentativas desses assassinatos culturais. O seu resgate não se dá apenas pelo fato de se tratar de uma tradição popular de caráter religioso, mas porque nele está presente o exercício da confraternização, do congraçamento e da amizade entre as pessoas. Parentes, vizinhos e amigos se irmanam nos festejos de Natal e Ano Novo. Por tudo isso, o ressurgimento dos Ternos de Reis, além do significado de recuperação da dignidade do folclore agro-pastoril brasileiro, significa também a vitória do saber popular contra um sistema criminoso e patrocinador da destruição dos ricos valores culturais de um povo continuamente subjugado. Contudo, nesse retorno, é preciso preservar a sua originalidade e autenticidade, livrando-o da exploração comercial. No Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, a indumentária a ser usada nos Ternos de Reis deve ser a compatível com a usada pelos gaúchos do interior, sob pena de se cometer mais uma incoerência cultural regional, dentre tantas que campeiam hoje no nosso Pago Sulino. Os municípios de São Sepé, Caçapava do Sul e Santana da Boa Vista têm realizado um relevante trabalho nesse sentido. Se idéias são necessárias, as ações são indispensáveis. Parabéns a todos! E viva o Terno de Reis!
Fonte: Bombacha Larga