Não tem lado de chegar
De qualquer lugar que venha
Tem uma porta a esperar.
Meu galpão é minha igreja,
Rancho, toca, ninho e lar.
Chego nele reverente
Como quem chega a um altar.
No centro, dentro de um aro
Num simples fogo-de-chão
Eu acendo o trasfogueiro
Que é a chama de tradição,
Onde cuia se oferece
Na forma de um coração.
Ao mesmo tempo sou crente
E um sacerdote pagão.
A canha que corre á roda
Saltando de mão em mão
Brinda os três santos campeiros
Por quem tenho devoção:
O Glaucus, o Darcy Fagundes
– índio velho meu irmão –
Mais o Carlinhos Amaro,
Que bebem do próprio chão.
Visita, eu recebo muito,
Cada hora. Todo dia
Mas só quem chamo de amigo
Enche o galpão de alegria.
Cada amigo é um irmão
Nessa estranha liturgia.
Basta que eu chame de che
Para entrar na confraria.
Aqui eu volto a ser índio
Numa taba do passado.
Aqui sou peão e patrão
No presente assegurado.
Aqui eu sonho o Futuro
Do meu Rio Grande adorado
Porque o Galpão é eterno
Como é eterno o meu Estado.