quarta-feira, 4 de março de 2009

Glaucus Saraiva por Nico Fagundes (2)

Glaucus Saraiva foi e é ainda um dos nomes mais importantes do gauchismo. Ele, Paixão Côrtes e Barbosa Lessa são os três reis magos que trouxeram os presentes que até hoje ornam o altar da tradição, três homens com os quais o Rio Grande contraiu uma dívida irresgatável. Poeta maravilhoso dos antológicos Chimarrão, Velho Poncho e Borracho, para ficar apenas nos seus versos mais conhecidos. Compositor de canções como Porongo Velho, Meu Cusco Barbudo e Tropeada. Cantor que fez parte de dois grupos famosos: Os Gaudérios e Quitandinha Serenaders, onde era companheiro de Luís Telles e João Gilberto. Foi um dos primeiros professores escolhidos para lecionar no curso de pós-graduação em Folclore da Faculdade Palestrina, de lendária memória, onde foi responsável pela cadeira de Folclore Infantil. As pesquisas que efetuou nessa área resultaram num livro lindíssimo publicado pelo Instituto de Folclore, referência obrigatória no tema. E na coleção de brinquedos que hoje faz parte do Museu Glaucus Saraiva na bela sede do CTG Sinuelo do Pago, em Uruguaiana, ao qual ele doou com a esperança de fazer prosélitos e discípulos. No entanto, atualmente, é um dos nomes menos falados no tradicionalismo. Parece que apenas o bravo CTG Glaucus Saraiva honra a sua memória. Mas não. Como eu, há outro gaúcho interessado em resgatar a importância de Glaucus Saraiva, pelo menos como poeta. Henrique Dias de Freitas Lima, nome importante na história dos festivais, como pioneiro e incentivador da Califórnia da Canção Nativa, excelente declamador, é um apaixonado pela poesia do Glaucus, de quem foi um grande amigo e de quem lembra com muita saudade. Pois o Henrique gravou Seleção de Poemas, um CD de poesias em que aparece o Glaucus de corpo inteiro, poeta da ternura e do amor.Glaucus Saraiva nasceu em São Jerônimo, filho de família tradicional. Logo se destacou dos irmãos e irmãs como ledor incansável e atleta perfeito. Era um autodidata por excelência, com uma formação humanística impressionante, apoiada por uma bela biblioteca.Glaucus conseguiu, como pioneiro, uma sede urbana e uma sede rural para o seu amado 35 CTG. Conseguiu, também, idealizar e implantar o Galpão Crioulo do Palácio do Governo, que leva o seu nome. Na minha opinião, Glaucus Saraiva é o maior poeta do gauchismo, o único entre todos nós a compreender que a poesia gauchesca não é a poesia do gaúcho e sim a poesia para o gaúcho. Por isso, a poesia de Glaucus é erudita, gongórica, rebuscada, rica em figuras poéticas, embasada em sua imensa cultura geral.
Nunca haverá outro Glaucus Saraiva.
Fonte: ZH - 28 de fevereiro de 2009 N° 15893
ANTONIO AUGUSTO FAGUNDES

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